Com
as palavras se constrói a vida, a morte e tudo o que nos propomos construir. Há
as que nos inspiram e as que nos secam, as ditas e as escritas, as que nunca
dizemos e nos arrependemos. Há as palavras que nascem em nós, perante desafios,
não pensadas mas sentidas.
Com
as palavras viajamos a mundos distantes, desconhecidos, inventados. Conhecemos
gentes, cidades, aldeias e toda a espécie de vidas, de tramas com que nos
identificamos ou rejeitamos.
Com
as palavras rasgamos a solidão, vivida, sentida, real ou imaginada.
Com
as palavras escondemos os silêncios e ludibriamos sentimentos, mostramos e
fingimos quem somos, o que queremos ou rejeitamos. As palavras quebram
barreiras ou edificam muros inultrapassáveis.
Com
as palavras se mata e se morre, de amor, de dor, de saudade, de angústia, de
tristeza e de tudo o mais de que somos feitos. Há as palavras ácidas, as doces,
as melodiosas e as diretas, com que nos enrolamos, deitamos, abrimos ou fechamos.
Com
as palavras simples nos comprometemos, para sempre, nos sins da vida. Com elas
se constrói o sal da existência, na poesia e todos os mundos do mundo, para
aquém e além dele: os mundos dos que as recitam, escrevem, inventam, cantam e
até daqueles que as pintam, desenham, esculpem, pois cada obra de arte contém,
e acorda em nós, palavras.
Com
as palavras nos perpetuamos e nos mostramos às gerações vindouras.
Compreendemos quem somos e donde viemos. Conhecemos as raízes que nos nutriram,
a terra de que somos feitos.
Com
as palavras construímos imagens, futuros, carreiras, e com elas as destruímos.
Com
as palavras, tudo e nada somos, mas sem elas, o inimaginável mundo de um total
silêncio se veria privado do seu outro lado e viveria, decerto, pela metade.
Com
as palavras todos os silêncios são possíveis pois cada uma delas possui em si o
silêncio respectivo.
Sem
as palavras todos seriamos mais pobres.
Vivam as palavras, todas elas, em
todas as línguas. E vivam também as meias-palavras naquilo que no indizível
nada deixam por dizer.
2013.05.15