Primaveras Vazias
O canto das andorinhas-dos-beirais anuncia
a primavera.
O homem ocupado, passa, alheio à vida preenchida
de vazios. As andorinhas voam para os ninhos, há muito minuciosamente
construídos, onde outrora nasceram e onde os novos petizes reclamam por
alimento.
O homem ocupado indigna-se perante o
lixo por baixo do ninho das andorinhas, mesmo à entrada da casa, que é sua,
ignorando todas as primaveras. Irritado vai buscar uma vassoura e varre dali a vida
e os seus ritmos, sábios. Satisfeito com este ato heróico, o homem, alheio à vida,
toma o seu rumo, vazio.
As andorinhas voam confusas ao redor
do lugar, agora sem vida. Ali permanecem em voos cruzados, certeiros e
delicados, fazendo-se ouvir em cantos estridentes, doloridos. A primavera poética,
cala-se, dando lugar ao mais gélido inverno.