domingo, 16 de fevereiro de 2014





É preciso cuidar do amor


É preciso cuidar do amor
Com muita perícia,
e alguma malícia.
Tratá-lo com pinças,
com luvas, caricias
e muita emoção.
Enxugar uma lágrima
em véu de cambraia,
rasgar um sorriso,
no sorriso amado.
Mimar o bastante
o amigo, amante,
em abraços doces
beijos escaldantes
noites mal dormidas
manhãs aquecidas
em corpos suados.
Do amor fazer
rios de prazer
sóis anunciados.
E quando a penumbra
ensombra o amor
descobrindo a dor
no par desarmado,
flores e doçura
abraços, ternura
adubam a terra
onde o amor espera
por ser relembrado.
No jogo do amor, a vida
se faz colorida.
Cumpre-se o desejo
de feliz se ser.
Na alegria, ou na dor,
é preciso cuidar do amor.

2014.02.12


Celebração

A cada ano que passa celebra-se o amor
Aquele amor que todos procuram
E raramente encontram.
O amor que dá, porque amar é isso
Que se sustenta a si próprio,
Que chora as lágrimas amadas,
Que ri os risos rasgados,
Ou os envergonhados.
Que está presente
No corpo e na mente.
Que sabe calar, se tal ajudar
Na hora de amar.
Um amor assim, não vira ruim.
Um amor assim, jamais se transforma
Sempre a si retorna para se alargar,
Desenha o amar em rostos plurais,
Transcende a casinha, o lar, a madrinha
O pai ou a mãe.
Amando o que vem, dá-se sem desdém
Sem medos, suspeitas, tramas, expectativas.
É amor sem dono, sem rei, nem patrono
Salpica sorrisos, Ilumina faces
Escreve Liberdade nos livros em branco
Neles registando tudo o que é amar.
Um amor assim explode no peito
Encarna o desejo de nada querer
Vive sem julgar e sem separar.
Este Amor, Maior,
Em todos reconhece
A ambição de feliz ser,
E a inquietação de não saber,
Como fazer
Para o cumprir.

2014.02.12






Identidades


Quem sou, quem não sou, nem eu sei!
Se o soubesse não era eu.
E é por não o ser, por o não saber
Que posso, tudo e nada ser.
Posso ser viva, morrendo.
Posso gritar de alegria, menina.
Posso aconchegar-te no colo
Limpar as tuas lágrimas
Guardar os teus segredos, amiga.
Posso sorrir ao espelho, vaidosa.
Andar ondulante, feminina e segura,
Tropeçar e cair na amargura
Rasgar corações em prantos
Entregar-me inteira, moçoila trigueira
Em abraços luxuriantes de amantes.
Ser filha, irmã e mãe e tudo fazer bem.
Posso ser a ovelha negra da família
Escrava do trabalho, vedeta, executiva, rainha.
Posso ser tudo isso e muito mais
Na identidade dos que buscam nada ser
De um ter hoje e amanhã não ter,
Nessa liberdade de vazio que em mim confio
Sei que nas muitas que sou
Está a identidade do efémero
Roupagem de tudo o que existe
No exultar da alegria e no se quedar triste.
Em mim, em ti, em nós
Acompanhados ou sós
Brindemos àquilo que é.
Na beleza nascida da certeza
De que mais nada sou
Do que aquela que rompeu a vida
Em pedaços de si
E amando, os espalhou.