domingo, 16 de fevereiro de 2014







Identidades


Quem sou, quem não sou, nem eu sei!
Se o soubesse não era eu.
E é por não o ser, por o não saber
Que posso, tudo e nada ser.
Posso ser viva, morrendo.
Posso gritar de alegria, menina.
Posso aconchegar-te no colo
Limpar as tuas lágrimas
Guardar os teus segredos, amiga.
Posso sorrir ao espelho, vaidosa.
Andar ondulante, feminina e segura,
Tropeçar e cair na amargura
Rasgar corações em prantos
Entregar-me inteira, moçoila trigueira
Em abraços luxuriantes de amantes.
Ser filha, irmã e mãe e tudo fazer bem.
Posso ser a ovelha negra da família
Escrava do trabalho, vedeta, executiva, rainha.
Posso ser tudo isso e muito mais
Na identidade dos que buscam nada ser
De um ter hoje e amanhã não ter,
Nessa liberdade de vazio que em mim confio
Sei que nas muitas que sou
Está a identidade do efémero
Roupagem de tudo o que existe
No exultar da alegria e no se quedar triste.
Em mim, em ti, em nós
Acompanhados ou sós
Brindemos àquilo que é.
Na beleza nascida da certeza
De que mais nada sou
Do que aquela que rompeu a vida
Em pedaços de si
E amando, os espalhou.

Sem comentários: