domingo, 19 de novembro de 2017




A GRATIDÃO DOS QUE NADA SABEM

Brincavas naquele parque, que nunca esquecerei. Olhaste-me, sorrindo como ninguém o havia feito. Vi no teu rosto a simplicidade e empatia que os grandes seres irradiam. Quem és tu? Perguntaste.
Face a tal espontaneidade o desconcerto tudo em mim invade e não soube que dizer.
Quem sou eu?!
Ali fiquei, mudo, parado, sem noção de tempo e espaço, atirado para margens sombrias. Em mim me despedaço na verdade que irradias.
Quem sou eu?!
Não te respondi, por não ter resposta alguma perante ti, perante mim. Não insististe, sabiamente. Apenas sorriste, como quem festeja a vida, alegre, colorida.
Pegaste-me na mão (com teu avô na outra). Levaste-me a ver os girassóis, parando o que chamo minha vida, egoísta, solitária, corrida. Deixei-me levar, nem sei porquê. Tinhas razão! Como eram belos os girassóis, aqueles que nunca ali haviam estado, para mim…
Desse dia em diante vi-te amiúde no caminho do parque. “ É trissomia 21” alguém me informou sem que o perguntasse.
Que importa o que é, que importa quem sou, se somos a cada encontro a alegria e a verdade da vida, a beleza que há nesse espaço aberto ao que vier, de braços estendidos ao sentir, ao estar.
Obrigada menina do parque, pela poesia que encontro a cada passo do caminho, rodeado de pássaros e margaridas, onde me descentro, caminho adentro, a cada manhã de domingo.
Hoje, quando encontro os teus olhos sei quem não sou, na revisitação do que em mim despertaste, irremediavelmente: Um estar sem tempo, um ser vazio de mim, onde vive a beleza do mundo, onde o coração se escancara. O lugar da tua verdade que hoje é também a minha.

Menina do parque,
menina mestre,
jardim que cruzei nos caminhos da vida,
bênção acedida,
rosa colorida,
mestre de uma vida,
da qual nada sei.

Obrigada menina do parque.



30.03.2017

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